If You Have Something to Say, Raise Your Hand and Place it Over Your Mouth.


Nothing Nice to Say

quarta-feira, março 23, 2005

Está na moda ser qualquer coisa. Tenho que ser qualquer coisa. Quem não é qualquer coisa, não é ninguém. Quero ser alguém. Contudo gostava de não a deixar a originalidade no alpendre. Não posso ser um primeiro ministro borboleta, uma vez que este lugar foi tomado de assalto, por uma coisa chamada Sócrates. Não posso ser presidente da Câmara de Lisboa e prescindir de casa própria, Santana Lopes antecipou-se pobremente. Não posso ser trabalhador da Bombardier, acho que não estão a contratar. Posso ser viciado em medicamentos de venda livre (vendidos em supermercados), acho que ainda ninguém é isto. Não posso ser copkiller, está demasiado na moda. Não posso ser pedófilo, pela mesma razão que não posso ser adepto do Futebol Clube do PorCo. Ambos têm demasiados adeptos. Não posso bulir nas obras nem arranjar um emprego camarário, é demasiado banal. Não posso ficar sem fazer nada, isso era fazer concorrência directa aos deputados. Posso ser traficante de canetas de tinta do tibete, com cheiro a rosas holandesas. Não posso ser gay, é um lobby restrito à política, comunicação social e a estilistas. Posso tentar ser um comunista neo-liberal de direita, com jeito para jogar à sueca. Não posso ser filho puta nem padre, apesar de haver mais filhos da puta do que padres. Também não posso ser teu pai, por razões que me transcendem. Posso ser um militar com cabelo comprido, um GNR sem bigode, ou um marinheiro heterosexual. Posso ser um bêbado desapreciador de vinho das mais requintadas castas. Não posso ser viniviticultor nem pulverizador profissional de sulfatos, quando muito poderia ser sulfatador de bufas na cozinha do teu restaurante preferido. Posso ser responsável por qualquer coisa que não envolva responsabilidade. Não tenho dúvida alguma, que seria o homem para o cargo. Posso ser um médico que cure os seus clientes e lhes deseje saúde. Não posso vender a revista Cais, além de já serem muitos eu tenho a dentição completa e não tenho pintinhas nos braços. Não posso ser um doente terminal sem tomates para desligar a maquinaria de suporte à "vida", já há bastantes. Posso ser um sem-abrigo ecologista, metendo a casa inteira nos pontos verdes, passando então a dormir ao relento. Não posso ter um emprego dos de 2euros/hora, não saberia o que fazer a tanto dinheiro. Posso ser um mecânico sem fato de macaco nem ferramentas, que apenas muda pneus de BMW's X5 a senhoras e senhores ditos ricos. Posso ser ninguém, deitando fora a minha identidade e tentar dissimular-me num qualquer sítio do Iraque ainda não destruído. Enfim, posso ser aquilo que eu quiser, sendo aquilo que eu quiser, algo que ainda ninguém tenha tentado ser. Acho que devias começar a preocupar-te também em ser alguém.

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